29 de agosto de 2016

Manuais escolares gratuitos?

Já temos os manuais deste ano mas para além de os termos encadernado ainda não estivemos a folheá-los com atenção. Tenho andado a pensar nesta novela dos manuais gratuitos/emprestados/doados whatever...

Inicialmente achava que os manuais não são coisas nas quais se deva escrever, devem servir apenas para consulta, leitura e de apoio em geral para as coisas verdadeiramente importantes e relevantes que o professor transmite na aula (isto em bom, claro). Entretanto mudei ligeiramente de opinião no que toca aos manuais escolares para o 1º ciclo do ensino básico, sobretudo para o 1º ano. A inocente criança, que vem do pré-escolar fazendo picotados, recortes e ligações tem aqui uma boa oportunidade de criar uma espécie de relação com o seu primeiro manual escolar a sério. Não sabendo escrever, o manual escolar é o veículo mais prático para ensaiar as primeiras voltas do AEIOU e quem diz letras diz números e frases e uma série de coisas que são essenciais para manter as crianças focadas, interessadas e produtivas sobretudo no ambiente da sala de aula.

Posto isto, sou da opinião que, nos moldes que aparentemente este esquema do "empréstimo" dos livros do 1º ano está a ser feito, acho totalmente inadequado e contra producente que uma criança seja "impedida" de escrever no seu livro, quando o livro está justamente concebido para ser preenchido. Como resolverá o professor este problema? Fará fotocópias do manual adotado para as crianças fazerem o tracejado e não marcarem o manual original? Escreverá o professor 26 vezes nos cadernos dos meninos O Gato do Gustavo é Grande quando ensinar a letra G? Quem diz uma frase diz TODAS as frases que sejam necessárias para praticar as letras e ditongos e o caneco em cada caderno de cada aluno. Socorro isto não é viável. A ideia é mesmo emprestar/doar/ceder temporariamente os manuais de modo a que sejam devolvidos imaculados no fim do ano, é isto que percebo do que se comenta, mas se estiverem rasurados ou escritos a caneta (sei lá corrigidos pelo professor!) o agrupamento já não pode receber o manual e os encarregados de educação terão de pagar a factura... Não é por nada mas, acho isto uma manobra tão pindérica... mas sobretudo uma manobra que gera confusão e mais do que isso, não promove uma boa relação entre o aluno e o seu material de estudo.

Embora considere que esta seja uma medida ridícula para o 1º ano e se calhar para todo o primeiro ciclo, já não posso dizer o mesmo para os restantes ciclos. À medida que o aluno ganha maturidade, a sua relação com os manuais começa a ser mais de apoio, o manual deixa de ser um suporte de escrita e passa a ser um suporte de consulta. Aliás, os manuais físicos até devem ter os dias contados porque são pesados, poluem e cada vez mais os suportes digitais são a preferência das gerações mais novas. Seria portanto uma medida mais eficiente doar, ceder, emprestar os manuais aos alunos dos ciclos mais avançados e ensino secundário porque nestas idades os miúdos já são bem mais autónomos nos seus métodos de estudo e os professores, convenhamos, não devem estar propriamente colados aos manuais a ler ponto por ponto aos meninos...

Que vos parece?

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá Sofia!Eu como mãe de uma pequena que entra esta ano no 1ºciclo tenho acompanhado a questão. Ouvi uma entrevista da Secretária de Estado em que refere que não estão à espera que os livros estejam intactos depois de passaram 1 ano nas mãos de crianças do primeiro ano e que são feitos para serem efetivamente usados/pintados. O objetivo é criar um espírito de conservação e respeito pelos livros nas crianças e que seja proveitoso em anos acima... Com esta óptica concordo!
Mas devo referir que no meu agrupamento ainda não sabem como vai ser a distribuição...
Um beijinho Carolina

Simplesmente Ana disse...

Sempre gostei de usar os livros. Ainda hoje, quando leio um, não tenho pudores em marcar as suas páginas e até de sublinhar algo que me tenha despertado a atenção. Gosto de escrever logo o meu nome e a data, enfim, de usá-lo a meu bel-prazer. Ainda não percebi, mas se os livros que são emprestados forem só para olhar...então acho a ideia fraca. Ou se oferece ou não.

**SOFIA** disse...

concordo com ambas. por um lado, o saber estimar e passar em diante é super importante incutir nos miúdos; por outro lado, há ainda uma grande incógnita sobre o que é efetivamente o limite de trabalhar sobre o manual que pede aos alunos que escrevam e desenhem nele...
estou curiosa para ver no que isto vai dar!

bjs