(fotografia Dato Daraselia, jornal Público)
Optámos por seguir para sul.
Quando nos aproximámos do corte nunca imaginámos que iriamos ficar ali, ao sol sob 38º, durante duas longas horas. Embora tivéssemos apanhado uma seca monumental, as crianças estavam sossegadas, sempre a ouvir música e demos graças por termos ar condicionado. Por sorte, nunca pediram nem água, nem wc, nem comida, porque nós não tínhamos nada! Não tão bom, foi avançar 2 km em duas horas; pior foi ainda ver gente a furar a fila com aquele ar de burrinho-chico-esperto de quem não "imaginava" que a fila fosse para a saída da autoestrada. Não fosse tanta gente dessa espécie e se calhar teríamos saído dalí uma meia hora mais cedo. Não fosse também a saída ter apenas 3 portagens para uma imensidão de carros que vieram de norte e sul e a maior parte dos condutores AINDA NÃO TER VIA VERDE (!!!!!!!) e a coisa teria sido mais fácil. Claro que se a brisa e a via verde tivessem optado por NÃO COBRAR aos utentes que só queriam fugir dali, que tudo também teria sido melhor, mas enfim...
Caso tivéssemos conseguido passar para norte à primeira o cenário teria sido horrível, como se pode ler nesta publicação do Facebook e que passo a citar:
"Quem será este casal?
Ontem, durante o corte da A1 na zona de Estarreja, entre as 17 e as 20h, estas 2 pessoas pensaram nos outros milhares de pessoas que estiveram, várias horas, paradas e abandonadas na auto-estrada, com 42º dentro dos carros.
Foram milhares e milhares de pessoas abandonadas à sua sorte, sem que alguém de responsabilidade, e, que certamente é pago para pensar nos outros, aplicasse um suposto plano de emergência rodoviária, tendo em conta as consequências de um corte de via durante várias horas, numa auto-estrada paga, sob um calor infernal e sem qualquer tipo de alternativa ou fuga.
Sob aquele sol escaldante com forte cheiro a queimado, aconteceu tudo aquilo que se possa imaginar e também aconteceu aquilo que nunca sequer se poderia pensar que pudesse acontecer, desde alguém que desmontou o rail central da via para fazer inversão de marcha, até ao acto do tripulante do Mercedes Coupé com matrícula...-58-QM, que saiu do carro com uma pistola em punho, contra quem não o queria deixar circular pela berma.
Depois de várias horas de momentos únicos, o trânsito começa lentamente a circular, quando, pouco mais de 1km percorrido, eis que se verifica um reacendimento na berma e no separador central, sem qualquer carro dos bombeiros no local, vendo-se no meio do fumo 2 militares da GNR, sem máscara anti-fumo ou qualquer tipo de protecção adequada, que, desesperadamente faziam circular os carros dentro do espesso fumo, com as chamas da berma a lamber os pneus da viatura e os meus companheiros de viagem a dizer - se alguém pára, morremos todos!
Não era a nossa hora nem o nosso dia, felizmente ninguém entrou em pânico, conseguimos passar pelo meio do fogo, mas, NUNCA a via deveria ter sido aberta, sem reunir condições mínimas de segurança e sem a presença de meios de socorro no local!
Foi um dia de momentos muitos intensos. Momentos, onde os seres humanos se revelam, com tudo aquilo que têm de bom e de mau. Muitos pormenores ficam por descrever... e termino com um MUITO OBRIGADO ao casal da foto, que graciosamente pensou nos outros e decidiu oferecer garrafas de água a todos, através da vedação da auto-estrada.
São pessoas destas que merecem as medalhas! São pessoas destas que com o passar das horas pensam...e pensam no sofrimento dos outros. São pessoas destas, pessoas com uma dimensão moral e solidária anónima que não têm preço, que espontaneamente se doam aos outros sem esperar receber nada mais em troca do que o sentimento de ter ajudado quem precisava. São pessoas de coração grande e de alma pura que merecem as "conde...corações" de gratidão.
Um sincero MUITO OBRIGADO, para este casal de Coração Grande!
Pedro Ladeira"
Entretanto o casal do texto acima foi localizado e já se sabem mais pormenores do que aconteceu.
via Público.
Após quase 4 horas de viagem lá conseguimos chegar ao Minho e mais uma vez, quando chegámos, mais cenários de incêndios violentos bem perto de onde moram os avós. Foi o dia mais quente do ano, onde infelizmente vimos o pior do que muita gente é capaz de fazer, mas por outro lado, há sempre heróis que se destacam e são esses os exemplos que queremos dar aos nossos filhos e que apontamos em tempo real.
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