20 de março de 2017

As leituras de fevereiro e março

Por aqui as leituras têm andado pela rua da amargura. Se comecei lançadíssima em janeiro/fevereiro, este mês a coisa descambou, mas já lá vamos...
Em fevereiro terminei o Ano da Morte de Ricardo Reis, que já falei aqui e li A Vida Inútil de José Homem (da Marlene Ferraz, nossa amiga) e a Clarabóia (de José Saramago), deu também tempo de iniciar a Cozinha Confidencial do Bordain que (ainda) estou a ler.

"A vida inútil de José Homem" é uma história curta mas não foi por isso que entrei rapidamente no ritmo do livro. Há muitas analepses e prolepses, muitos cortes e silêncios e que deixaram alguns momentos assim meio abertos à consideração da imaginação do leitor. Achei-o bastante teatral por causa dos diálogos e dos silêncios e quando comecei a engrenar no ritmo o livro acabou. Gostei bastante!

(cenário de Clarabóia na adaptação ao teatro pela companhia A Barraca, encenação de Maria do Céu Guerra)

Depois iniciei o livro "Claraboia" e é aqui que me vou demorar mais um pouco neste resumo.
Já tinha o livro cá em casa há uns dois anos, é da minha mãe e embora o quisesse ler quando o trouxe, sempre me inibiu o facto do autor não ter autorizado a sua publicação em vida. De acordo com o que pude apurar os herdeiros, juntamente com a editora (na altura a Caminho) decidiram publicar o romance mas cheira-me que Saramago não teria autorizado... O livro foi escrito quando o autor tinha 31 anos e descreve um período de tempo de 6 famílias que moram em 6 apartamentos de um prédio lisboeta na década de 1950 (o livro é de 1953), ou seja, no pós-guerra. O romance foi enviado na altura a um editor e rejeitado por supostamente não apresentar qualidade literária. Depois deste episódio nunca mais José Saramago tentou publicar o livro.
Fiquei então dividida se lia ou não lia a história e acabei mesmo por lê-lo e gostei muitíssimo. Em comparação com outros livros de Saramago nota-se uma diferença grande na densidade da história, mas quem conhece os tiques do autor já reconhece o estilo em desenvolvimento. Tal como o próprio autor diz, trata-se de uma história simples (como ele), e efetivamente é uma narrativa simples, mas se o livro começa de forma ligeira e até cómica, com o avançar da história há vários momentos muito tensos e de uma crítica social muito incisiva. Em vários momentos pensei "foi aqui que o editor se reviu, se embaraçou, se envergonhou e rejeitou o livro", a capacidade de Saramago ser tão certeiro nas descrições das pessoas, das suas fraquezas é genial e este livro, embora de uma fase muito inicial da sua carreira é já um bom indício do que viria por ali... O livro é excelente, simples mas muito bom; fiquei vários dias a pensar naquelas personagens, no papel da mulher portuguesa na década de 50, no papel da rapariga antes de casar e o que lhe estava destinado depois disso entre outros aspectos mais filosóficos. Quanto a mim é um excelente romance de Saramago, sobretudo para quem nunca leu nada do autor; vale a pena ler.





Quando terminei a Claraboia iniciei a "Cozinha Confidencial" do Bordain e ainda estou a mastigá-lo. Vi imensos programas do Bordain, dos quais gosto bastante diga-se, mas o livro, embora não esteja mal escrito, está a pregar-me um secão que não vos digo nada. A narrativa é bastante do estilo "eu sou o maior da minha rua" e se inicialmente até tinha uma certa piada, a verdade é que agora quase a meio do livro já não traz nada de novo e estou a engonhar. Não sei muito bem se o que não me agrada é o facto de não se tratar de ficção ou se é apenas um problema do autor, mas neste momento o meu dilema é: abandono ou não? Dizem-me as minhas amigas que o abandone e provavelmente é o que lhe vai acontecer. E eu que ia tão bem lançada pá...

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