5 de janeiro de 2018

TPCs em tempo de férias, esse flagelo

Acho que é preciso falar disto porque, a mim admito, aborrece-me imenso esta história dos TPCs "só para eles não se desligarem totalmente da escola".

Ora bem, eu não sou contra os TPCs, toda a minha santa vida escolar fiz imensos e não me choca ver os miúdos fazê-los. Mas uma coisa é uma fichita de português e outra de matemática, uma coisa singela, uma tabuadazita, não dói, não fatiga e não esquecemos a escola, verdade? Outra coisa são 10 páginas cheias de perguntas, tabelas, textos para redigir e no fim "Boas Férias!".

Boas Férias?
Boas Férias? Fala sério!!

Cá em casa, nem eu, nem o meu esposo fomos daqueles alunos que chegavam a casa e iam logo fazer os deveres a correr para depois ir brincar. Sempre tivemos de ser mandados, lembrados, chocalhados e julgo que essa tendência é genética porque embora obriguemos (e acompanhamos) a nossa mais velha nos deveres, a verdade é que ela nem que fosse subornada fazia os trabalhos por iniciativa própria. Às vezes lá calha de se lembrar que tem de fazer uma ficha ou estudar uma partitura, mas é coisa rara. Posto isto, as nossas férias de Natal foram um pequeno inferno, obrigadinha!

Eu deixei a coisa andar, na esperança de ver a iniciativa da parte dela, mas a verdade é que esse dia não chegou. Lá andei eu de volta "faz os deveres" em loop, que massacre, até ao último dia de férias.
Professores deste meu país, bem sei que querem o bem supremo dos vossos alunos mas digo-vos em boa verdade:

Eles não vão saber mais por terem 500 fichas por fazer.
Eles não vão saber mais depois de um dia de aulas até às 17:00 e ainda terem de fazer um texto criativo, ou uma lista de contas de subtrair com empréstimo.
Eles também não vão saber mais se tiverem um fim-de-semana inteiro a converter numeração romana-árabe-romana.

Embora nas férias haja aquela ideia de que há muuuuito tempo para fazer os deveres, a verdade é que não é bem assim... Os pais não tiram duas semanas de férias, hellooo!, os miúdos têm de ser despejados num campo de férias qualquer onde não vão levar os deveres. Depois há toda uma agenda familiar que é PRIORITÁRIA a qualquer subtração ou multiplicação ou resumo. E tudo isto somado chega-se ao último dia de férias e aquela nuvem negra que é a obrigação de fazer as fichinhas não sai do nosso horizonte.

Quem me dera que a minha filha fosse como aquelas crianças que chegam logo a casa e despacham tudo e se calhar ainda queriam mais, mas infelizmente ela é daquelas mais normais...

Professores deste meu país, pensem bem nestes cenários OK! Tenho a certeza que não somos uma excepção...

5 comentários:

Simplesmente Ana disse...

Tal e qual! Os professores acham que é fácil mandar fichas enormes para o fim de semana, porque há três dias para fazê-los. Como se à sexta-feiras as crianças estivessem desejosas de chegar a casa e começar e até parece que não há mais atividades em família ou extracurriculares para ocupar o tempo. Professores, tenham dó e sejam razoáveis!

Lipa disse...

O meu filho nao tem normalmente TPCs nem durante a escola nem nas férias. Ocasionalmente la traz qq coisa para fazer ao fim de semana mas é raro e normalmente coisa rápida. É do mesmo agrupamento da L. mas noutra escola, mas aqui acho que pesa mais a prof. que os outros dois elementos parece-me. No 1º ano trazia muitas vezes TPC (mesma prof) foi uma tortura , um ano horrível e ele desenvolveu uma relação péssima com a escola, mesmo muito má. No 2º ano e nos seguintes ela deixou de mandar TPCs à semana (não sei se alguns pais se queixaram se foi mesmo mudança de atitude da prof), qd o fazia era ao fim de semana e coisas ligeiras. Lá calha um ou outro tcp à semana mais proximo dos testes mas fora isso é um sossego mesmo. Está no 4º ano e a turma aprende tanto ou mais que as outras todas do mesmo nível. E ele recuperou uma relação saudável com a escola onde gosta de ir e aprende lindamente. Curiosamente as notas dele subiram drasticamente desde que deixou de ter TPCs tb. Esta é a minha experiência sobre o assunto. Não tivemos TPCs nas férias ,nem sequer fazer um desenho (fez muitos mas pq quis nem tema nem obrigatoriedade) nem sequer pensou na escola.

sof* disse...

Lipa: aqui por norma não há grandes exageros, mas há SEMPRE algo para fazer. O que eu me questiono é se haver sempre é benéfico? Haverá vantagem em obrigar o aluno sentar-se mais uma vez nem que seja para dividir palavras em sílabas? O que acrescentam esses 5 minutos se o aluno já esteve um dia inteiro na escola?

Curiosamente, este ano letivo, foi adoptada uma estratégia diferente na avaliação dos miúdos: em vez de haver testes mensais, passou a haver apenas 1 teste no final do período e pequenas situações de controlo durante esse mesmo período. No nosso caso, os resultados foram muitíssimo melhores e pela primeira vez a professora e nós concordámos que havia um interesse maior nas aulas (da parte da minha filha) bem como uma melhor consolidação da matéria dada. Concluímos que não havendo aquela pressão permanente de testes que o aluno ganha tempo e aprende mais naturalmente. Havendo estes casos de melhorias de aproveitamento e comportamento, porque não reduzimos drasticamente os TPCs?

Isto dava todo um novo post :)

obrigada a ambas pelas vossas opiniões**

Catarina disse...

Ai Sofia... eu leio estes teus posts, olho para a minha querida filha e para este nosso dia-a-dia e começo a ter pesadelos só de pensar no que me espera no próximo ano lectivo que eu não anseio nadinha de nada e que já está aí tão perto :(...
Queria tanto, mas tanto desacelerar isto, mas naõ sei como se faz!
Raios parta este nossos sistema de ensino autista! esta coisa dos TPC's e do mandar fazer por fazer enerva-me tanto... sinto que para o próximo ano lectivo não é só ela que começa uma nova etapa. Sou eu que volto para a escola e estou tão ou mais ansiosa que da primeira vez. Agora tenho outras responsabilidades e confesso que quando chegar a casa também não me vai apetecer nadinha ir a correr fazer os "deveres". A ideia era largar a mochila na entrada e ir brincar e estar em família o pouco tempo que resta do dia...

Inspira, respira, não pira...

beijinhos e bom ano para vocês ;)

**SOFIA** disse...

Catarina, nem todos os professores são obsecados por TPCs, até te posso dizer que no primeiro ano a L só trazia TPCs aos fins-de-semana e nem sempre. Creio que o melhor é sempre dialogar com os professores dos miúdos e fazê-los ver o nosso ponto de vista. Acho que às vezes os professores ficam tão estressados com a possibilidade de não conseguirem dar a matéria toda que enviam dose extra para os miúdos praticarem em casa. Daquilo que tenho visto, eu pedi uma experiência de 2 dias sem TPCs à nossa professora e o meu pedido foi acatado, desde então consigo ver bem a diferença nos dias de "deveres" e dias de "folga". É como se a criança conseguisse efetivamente fechar o capitulo Escola naqueles dias, saiu-acabou e essa pequena sensação de liberdade, por mais singela que seja tem sido fundamental!!

não desanimes antes do tempo que em princípio tudo tem solução, vai por mim ;)
beijinhos