De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as nossas crianças, entenda-se do mundo inteiro, deveriam ser amamentadas até aos dois anos de idade. O princípio do qual se parte é nobre, sim senhor, de acordo com as suas estimativas, evitar-se-iam as mortes de cerca de 1,5 milhões de crianças. Mas será isso viável na nossa sociedade, industrializada, onde as mulheres trabalham fora de casa e querem ser algo mais do que "mães"? No terceiro mundo, onde as crianças andam ao Deus-dará, acho que sim, as suas hipóteses de receberem melhores nutrientes é mais do que uma boa razão, mas olhando ao meu caso, não vou generalizar, isso seria impensável. Eu nem quero imaginar se eu tivesse optado por continuar a amamentar, ter que andar todo o santo mês a pedir atestados, a informar toooooodo o escritório que ainda andava nessa vida, eh pá, não obrigadinha. Até certo ponto podemos fazer concessões em prol dos nossos filhos, mas depois e nós? Aí instala-se muitas vezes a culpa, "ai que fui eu tirar a mama à pobre criança porque já não quero/posso...", a culpa é o sinónimo da pressão da sociedade, de instituições como a OMS e dos cada vez mais puritanos dos deveres maternos.
A propósito deste e de outros assuntos actuais, como as carreiras, o bem-estar da mulher, mais filhos, casamentos, relações em geral, chegou às livrarias este livro - O Conflito: a Mulher e a Mãe, da filósofa francesa Elisabeth Badinter. Neste livro, a autora alerta as mulheres, a sociedade, para o crescente número de movimentos naturalistas que defendem o regresso das mulheres a casa, abdicando das suas carreiras, bem como os partos sem anestesias e a amamentação prolongada. Claro que não há qualquer mal em tomar qualquer uma destas opções, ou todas até, o problema impõe-se quando as mulheres se sentem pressionadas pela sociedade a tomar estas decisões.
Um livro que me aqueceria o coração no próximo Natal, sem dúvida.
Da editora Relógio d'Água, ainda não se encontra à venda nas lojas on-line de Portugal.
9 comentários:
Concordo plenamente contigo, em tudo. Os fundamentalismos da mama, como qualquer fundamentalismo, só prejudica todas as partes, incluindo os miúdos...
E tal como dizes, mesmo que houvesse essa vontade, seria difícil concretizar, se não impossível, na nossa sociedade e ainda mais em Portugal. É difícil conciliar carreira e filhos quando se trabalha muitas horas fora de casa, principalmente quando pai e mãe trabalham muitas horas fora de casa e quando se espera que a mãe trate dos filhos, apenas com uma "ajudinha" do pai, sem verdadeira partilha da parentalidade. Felizmente não é o meu caso, mas é o da esmagadora maioria. Portugal ainda tem muito para avançar no que diz respeito a flexibilidade de horários, teletrabalho e igualdade na partilha dos deveres de cuidados aos filhos. Talvez assim fosse mais fácil cada mulher (cada família) fazer as suas escolhas, sem ter nenhuma imposição externa e sem culpas e ainda, sem prejuízo dos filhos.
Concordo plenamente contigo.
Para além de ser difícil pela logística que envolve amamentar até aos 2 anos, é completamente coerente a mulher/mãe simplesmente não querer, a partir de certa altura, continuar com a amamentação.
Sim, há quem não queira e não é crime nenhum não querer. Não se é menos mãe por tomar a decisão de parar de amamentar, embora haja muita gente que tome isso como um atentado à maternidade.
A propósito do teu post, vê esta capa:
http://www.youkioske.com/prensa-espanola/magazine-el-mundo-17-octubre-2010/
Há quem se sinta muito ofendido com ela. Eu percebo perfeitamente o seu sentido.
Absolutamente de acordo! sendo certo que estes estudos da OMS são de facto correctos se incluirmos, como bem referes, as necessidades nutricionais das crianças de terceiro mundo. Não é de facto o nosso caso, muito embora quase ninguém faça essa precisão. De acordo com o pediatra da Laura, a partir dos 12 meses já fará mais mal que bem quer ao bebé e sobretudo à mãe.
No entanto, a pressão sobre as mães é intensa, e é tão injusto tendo em conta, realmente, a falta de condições para possibilitar essa amamentação.
Bjs
Acho que não é preciso andar a pedir atestados nem reduções de horário para amamentar até aos dois anos ou mais. Conheço quem o faz e também pretendo fazê-lo sem prescindir da "minha vida" por assim dizer. Não é por dar mama ao deitar ou ao levantar (que é disto que se trata quando se ultrapassa a barreira do primeiro ano) que vou perder a oportunidade de ser mais do que mãe. Bjs
Marta: a capa está o máximo, mas acho que agora impõe-se a pergunta: quanto tempo mama o vitelo? ;-)
Marina: eu conheço duas mães q amamentaram mais de um ano e mesmo o fazendo de manhã e à noite não prescindiram dessa regalia. Se há leis q favorecem uma situação é fundamental aplica-las!
Eu não digo que se deva prescindir dessa regalia, muito pelo contrário, é aproveitá-la enquanto se pode! Só acho é que não é por dar mama de manhã e à noite que vamos deixar de "ter vida própria".
sabes o que eu acho em relação a isto tudo? é tapar os ouvidos e não ligar ao que as pessoas dizem =))) no caso de se querer dar de mamar e de não querer.
eu dei até aos 13m e parei porque ele quis, fiquei cheia de pena, confesso!... mas, não fiz disso nenhum drama e acima de tudo nunca fui fundamentalista neste aspecto. sempre disse que a partir do momento que me sentisse incomodada com o assunto pararia...
Hummmmm. Vou ali dar de mamar e já volto.
:)
Os fundamentalismos sejam eles quais forem não servem para nada... não há que impor nada... As mulheres devem querer ficar em casa porque sim, e estando em casa têm outra disponibilidade, tudo bem!
Agora eu é que não fico em casa, sei que não é para mim, mas o problema está na NÃO APLICAÇÃO DAS LEIS no mundo laboral, porque elas existem!
Bastava os pais simplesmente sairem à hora certa do trabalho (aquela para que foram contratados) para alguns problemas se desvanecerem... E depois se o casal partilha as tarefas, mais fácil é.
O código do trabalho contempla férias com os filhos, dias para se ir à escola e reunião de pais, caso de doença, enfim... Mais coisas deveríamos ter direito para se conciliar melhor, mas se já isto tudo fosse feito naturalmente, sem que no dia a seguir nos olhassem de lado porque fomos a uma peça da escola ou porque saímos às 18h... ERA FORMIDÁVEL!
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