Há alguns meses li o seguinte texto da Raquel Varela e que passo a citar na íntegra:
"Filhos, sinal exterior de riqueza
Entre o Natal e o Ano Novo estive de férias. Fiz com os meus filhos o que queria fazer. Fui a bons concertos, adequados a eles, claro; levei-os a ver bons filmes (Ken Loach, Kusturica e Chaplin), cozinhámos juntos, tocámos piano, e sai música de lá!; andámos de trotinete; fizeram surf; até um cavalete de pintura comprámos, onde, com um livro de arte na mão, treinámos as primeiras tentativas de pintura a óleo; convidámos os amigos deles para sair; brincaram e passearam com a família, as primas, que adoram; lemos, muito, e conversámos sobre a leitura, jogámos cartas. Só em três idas ao cinema gastei quase 60 euros porque pagam como adultos; como algumas das vezes convidei os amigos, subiu para 100 euros, 20% do ordenado mínimo – ir ao cinema! Ah, têm 12 anos, mas pagam tudo como adultos: subir o elevador da bica – 3,70 cada; o bilhete de comboio da linha para Lisboa – nesse dia levei 4 crianças, 17 euros ida e volta; a entrada no castelo custa 8,50 para adultos – não entrámos, há limites…Juntem pinturas, pincéis, concerto, livros…A única coisa gratuita foi o Museu do Aljube, que adoraram, e as igrejas de Lisboa. Juntem uns gelados banais, uns hambúrguers, um chá com bolo em Alfama, sem luxos, passear na nossa cidade. Se tivesse ficado em casa tinha comprado duas playstation, uma para cada um, que os «educavam» o ano inteiro…Há muito tempo que tento dizer isto quando oiço dizer «no país há pobreza mas todos têm um bom telemóvel» – não há nada tão barato para educar filhos como Televisão e jogos de computador e telemóveis. É aí, no aumento da produtividade dos pais, no catatonismo anti-social e virtual dos filhos, que reside o boom das novas tecnologias para crianças que, ainda por cima, actuam no cérebro exactamente como uma droga, promovendo mecanismos de recompensação e satisfação ao nível do cérebro cada vez que estes tocam num botão e o boneco salta, porque o objectivo foi alcançado.
Nem sempre, mas quase sempre que fazemos programas com os miúdos recordo-me deste texto.
A partir do dia de hoje, 2 de julho, as entradas nos museus aos domingos volta a ser gratuita, coisa que ficou suspensa desde há uns anos. Compreendo perfeitamente o preço que se paga para visitar uma exposição, seja ela qual for. Há imenso trabalho envolvido numa coleção de um museu, numa instalação temporária, há seguros, despesas logísticas e uma infinidade de outras despesas que têm de ser suportadas e a receita da bilheteira irá colmatar tudo isso. Enquanto a esmagadora maioria dos visitantes de museus pode arcar com essa despesa e comprar bilhetes com facilidade, há todo um universo de público que raramente visita um museu. Não têm liquidez para dar por pessoa, 15€ para um zoo ou oceanário, ou 12€ para visitar por exemplo a nova exposição de Van Gogh e nestes casos não se ganha o hábito de frequentar museus porque acredito que se parta do princípio que "é caro" e que 45€ são mais facilmente canalizados para a caixa do supermercado do que para um balcão de museu. Atendendo a este cenário acho que era imperativo que os domingos gratuitos nos museus regressassem, porque todos têm de ter acesso à cultura e só aí farão a sua escolha baseada no interesse cultural e não no aperto económico, verdade?
Ainda que haja esta decisão de entradas gratuitas nos museus, calhou de irmos hoje a um sítio que também tinha uma secção museológica e na verdade a entrada era paga... Portanto julgo que nem todos os museus estarão abrangidos por esta medida. Ainda assim, mais vale alguns aderirem do que nenhuns.
Embora haja exposições caras, justiça seja feita que também há uma infinidade de museus e fundações cujos espólios são disponibilizados ao público sempre gratuitos, ou com preços reduzidos o que dá sempre oportunidade de boas visitas, há é que aproveitar para justificar a necessidade destas organizações continuarem a financiar estes espaços, pois se não houver procura então para quê mantê-las?
A par dos museus, que nós consideramos sempre um excelente programa para fazer com as crianças, o cinema é também uma opção recorrente, sobretudo no inverno por anoitecer muito cedo e chover. Ao contrário de um bilhete de museu, custa-me IMENSO dar 6€ para ir ao cinema, acho que não se justifica este preço e até agradecia que me explicassem melhor como poderá ser rentável haver tantas salas de cinemas 3D, 4D, IMAX coiso, quando muitas vezes estão lá sentadas meia dúzia de pessoas?
Quando eu era miúda ir ao cinema era uma coisa banal, íamos com muita frequência em grandes grupos, as salas estavam sempre cheias e pagávamos aí uns 200escudos, isso é o quê 1€? Certo que em 20 anos a qualidade de som melhorou, a imagem também, mas os filmes continuam a mesma coisa, uns excelentes, outros péssimos, ou seja, tudo normal. Para uma família de 4, uma nota de 20€ não chega para ver um desenho animado!! É certo que as crianças ficam fascinadas e estamos a incutir-lhes o gosto pelo cinema e isso atenua o gasto, mas enfim, não havia necessidade...
Posto isto, fica a sugestão de olharem bem para as estatísticas de frequência das salas de cinema que temos hoje em Portugal. Há tanto shopping, cada um com uma dezena de salas, e aposto que na maior parte do tempo estas mesmas salas nunca esgotam. Compensará cobrar 6€ por um bilhete de cinema?
1 comentário:
Subscrevo. Um dos nossos programas grátis é uma ida à biblioteca ao sábado de manhã.
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