19 de maio de 2017

O desporto e a arte como extras na escola portuguesa





Vitória de Samotrácia - da Grécia Helénica - Louvre

Esta semana li três artigos que me deixaram a pensar no rumo que toma o nosso ensino, até podia ser uma coisa local, mas pelos vistos é mais global do que se poderia imaginar. Grosso modo, os artigos falam na secundarização do desporto e da arte nas rotinas diárias dos alunos, em como estas áreas são escassas e muitas (a maioria) vezes são opcionais ou mesmo praticadas fora da escola (por quem pode...). Julgo que para além da desculpa (esfarrapada) que assenta nos cortes orçamentais que todos conhecemos, acho que o problema não está só aí. Corta-se nas horas de desporto, de educação visual, de história da arte até no ensino superior, porque não são consideradas essenciais (socorro!) e tenho para mim que caminhamos a passos largos do abismo cultural.
As escolas, sob as ordens superiores que as gerem,  focam-se essencialmente naquilo que é imediato, naquilo que é factual e técnico e deixam a expressão corporal, a expressão artística para segundo plano ou mesmo para fora do plano.
Um dos textos que li fala um pouco sobre a questão com a qual muitos pais e até alunos se deparam, que é a encruzilhada de optar entre o estudo (técnico) e o estudo desportivo por exemplo. "Se começas a ter más notas sais do futebol, ballet, natação, o capeta!", quem nunca ouviu esta ameaça que ponha o dedo no ar - sortudos! Mas o que o texto reflete é: e se efetivamente a atividade "paralela" for afinal a convergente? aquela que faz o aluno inspirar-se em ser uma pessoa melhor, mais completa?
Outro dos textos fala na gritante e crescente quantidade de miúdos obesos e apontam críticas à quase inexistente expressão física oferecida nas escolas*. Seria esta disciplina, a Educação Física, de umas duas horas semanais, suficiente para colmatar ou até gerar interesse nos alunos? Eu contra mim falo que mal suportava essas duas horas, mas o facto é que essas duas horas semanais resumiam-se à prática desportiva com bola que eu detestava e nunca praticávamos ginástica que era aquilo que eu mais queria mas que também não tinha oportunidade de praticar fora da escola. Não há tempo para nada, programas científicos extensíssimos e provavelmente desajustados e depois corta-se naquilo que a uns parece ser secundário, ou seja, o desporto, a arte, a pesquisa, o debate...
Nunca me hei-de esquecer que um dia um professor nos disse que Estudar é Relacionar; e acho que hoje em dia relaciona-se pouco o estudo técnico-científico com o estudo do belo e do físico. Cabe-nos se calhar mais uma vez refletir sobre estas questões e também chamar a atenção dos nossos filhos para a beleza das coisas simples, mesmo que seja uma flor ou um portão de ferro ou um salto à vara, porque na escola, está visto que não irão chamá-los a atenção para coisas diminutas...


* quando digo "escolas", refiro-me naturalmente ao ensino público, que é o universo no qual nos mexemos e que mais me interessa.


Para quem quiser ler os tais artigos:

taxas de crianças obesas - http://observador.pt/2017/05/17/portugal-e-o-quinto-pais-com-mais-criancas-obesas-na-europa

sobre a desistência das atividades paralelas - http://www.huffingtonpost.co.uk/karen-laing/dont-make-your-kids-quit-_b_15856368.html

sobre o fim da disciplina de História da Arte - http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/2017-05-19-Historia-de-Arte-em-risco-nos-cursos-de-arte

1 comentário:

Helena disse...

Não vejo sentido estas duas disciplinas com D grande serem extras! O que trazem de bom, é útil à Escola enquanto lugar de Comunidade e Partilha, de Equipa e de Descoberta, de formação da Individualidade e de Relacionamento.

I.e. o Desporto forma-nos para integrar equipas, com objectivos, com táctica. E usa o mais natural do ser humano: o movimento! Imagina o que o Desporto pode fazer a miúdos com problemas fora da escola. Aqui têm algo a que se agarram e empenham!
E nasce o companheirismo :).

Na Arte, descobrimo-nos enquanto indivíduos. Aprendemos a essência das coisas, permite-nos transparecer... opinar, criar.

Eu vejo por mim... metade de mim é música e divagações... :) e a outra, é técnica... cheia de engenhoquices... E passei pelo desporto "da minha família", o Hóquei em Patins feminino :D.

Como não poderei passar estas essências aos meus???

Bjs :)