18 de julho de 2011

O poder da exclusão

Há umas semanas atrás fomos informados que os miúdos da creche íam à praia, só uma manhã, para contextualizarem de modo mais realista as histórias e trabalhos que estavam a desenvolver durante aquela semana (creio que até foi na semana em que começou o verão).
Ao olhar para o bilhete/aviso a minha resposta foi logo "Não". Eu não consegui ver grande vantagem em autorizar que uma criança tão pequena fosse para a confusão de entra na carrinha - sai da carrinha - creme - ai a areia - ai o vento - olha a t-shirt toda molhada - entra na carrinha - e volta para casa.
Se já para nós, pais, é uma estafa ir à praia com só ela, eu nem quero imaginar o pesadelo que é levar uns seis exemplares do género!! As educadoras ficaram tristes, oh coitadinha, fica na creche, mas também não fica mal, etc, etc...
Nesse dia eu senti que tinha um grande poder sobre a minha filha, eu tive o poder de a excluir de uma pequena maioria. Ela ficou com os bebés em terra firme, enquanto os colegas da sala foram para a praia. Confesso que senti um aperto no peito, é difícil dizer que "não", mesmo que ela não tivesse noção disso, mas tenho a certeza de que foi a decisão mais acertada, embora a viagem dos miúdos tivesse corrido muito bem. Ainda bem para eles!

Passado quase um mês desse dia, resolvi escrever sobre isto, nada mais, nada menos por causa desta notícia do Público, que transcrevo na íntegra:

"Por volta das 8h30 de ontem, os dois filhos de Sónia e Nuno Cabrita, Maria de 4 anos e Miguel de 5, tinham saído para uma actividade do programa “praia-campo” promovida pelo colégio nos meses de Verão, acompanhados por professores educadores e por auxiliares. 

Quando Sónia Cabrita chegou ao colégio por volta das 18h40, o autocarro que transportava as crianças já tinha chegado, mas a sua filha não se encontrava no estabelecimento de ensino. Depois de a terem procurado por todo o colégio, veio a constatar-se que Maria tinha ficado esquecida no autocarro alugado pelo externato e estacionado em parte incerta.

Segundo Sónia Cabrita, o director do externato foi buscar a criança, que teria adormecido durante a viagem e trouxe-a para junto da mãe, que se encontrava bastante transtornada. A criança estava assustada e a chorar, mas, segundo a mãe acabou por encarar o episódio como uma aventura.

Esta manhã, Sónia e Nuno Cabrita dirigiram-se ao externato para apresentar uma reclamação por escrito e para cancelar as matrículas dos filhos para o próximo ano lectivo. Os pais de Maria estão também a tratar de todos os procedimentos para apresentarem uma reclamação sobre este caso, que consideram ser de uma “negligência atroz”, junto da Direcção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo.

Num comunicado à imprensa, a direcção do Externato João XXIII confirmou o incidente e referiu que a busca pelo paradeiro da criança durou cerca de meia hora e que Maria foi encontrada junto do motorista em total segurança. "Um elemento da direcção acompanhado pelo psicólogo do externato seguiu o autocarro que tinha acabado de abandonar as instalações acabando por o intersectar ao chegar ao parqueamento (cerca das 18 horas), também ele na Expo, onde o motorista ainda não se tinha apercebido da aluna a dormitar, uma vez que ainda não tinha tido tempo para revistar o veiculo", explicam os responsáveis do colégio.
Um membro da direcção e a directora pedagógica do pré-escolar dirigiram-se ainda na noite de ontem a casa da família Cabrita para lamentar o sucedido e entregar pessoalmente duas cartas com um pedido de desculpa, informando que procederam ao despedimento do corpo docente e dos auxiliares envolvidos no caso e que o motorista da empresa que transportou as crianças não deverá voltar conduzir nenhum autocarro que transporte os alunos deste externato."

Se eu passasse por esta experiência ficava histérica durante uma semana. Eu confio nas educadoras da minha filha, mas basta uma distração, uma palermice e pronto, está tudo lixado...

3 comentários:

Marta disse...

Quando li esta noticia fiquei com os cabelos em pé (salvo seja)! É revoltante.
Compreendo o teu ponto de vista mas prepara-te porque não vais conseguir protegê-la para sempre.
Garanto-te que a primeira saída, passeio pela escola é horrível para nós. A cabeça não desliga disso, o coração fica apertado mas, quando vês a alegria com que chegam, o entusiasmo com que contam o que fizeram (e a parte da carrinha geralmente é uma das mais excitantes do acontecimento), percebes que fizeste bem, eles adoram e é uma experiência muito rica. Mesmo que tenha sido algum sitio em que já tenham ido com os pais, com os amigos é sempre diferente e muito mais divertido.
Claro que há idades para tudo, a tua ainda é pequenina, se calhar também teria dito que não (por acaso não me lembro que idade tinha a Nini na sua 1ª saída).

Tica disse...

Eu concordo com a Marta, vai chegar a um ponto que tens de abrir um pouco a asa... é mesmo como dizes, basta uma distração que lixa tudo... mas daqui a uns tempos tens de abrir o perímetro de ação da cachopa. (estou a tentar escrever de acordo com o novo acordo :D)

cibele barreto disse...

Uau, que pesadelo!
Não consigo imaginar o que eu faria nessa situação tb. Desesperante...
É uma grande responsabilidade estes passeios fora da creche, e não é a primeira vez que ouço histórias de crianças "esquecidas".
Mas é verdade também que não podemos "excluí-los", ou protegê-los eternamente... o coração de mãe terá sempre aquele fio fininho que nos liga ao filho.

mãe "sofre".

bjo