Este é um post sobre o orgulho.
A minha filha, é tão irrequieta, tão sonhadora, sempre no mundo dela, a gesticular, a falar sozinha, a rir dos enredos que povoam a sua imaginação. A cabeça dela não para, está sempre lá, longe; temos de a chamar, para ela nos responder a qualquer coisa, mas ela também sabe o que se vai passando no mundo real, essa é a parte divertida.
Pusemo-la no ballet porque achámos que era uma atividade que reunia características muito importantes e sobretudo que tinham muito que ver com ela. A música, o exercício físico e trabalhar com outras professoras e crianças foram os pontos mais importantes; depois a disciplina, a postura e o ritmo eram pontos que vinham por acréscimo. Durante estes meses letivos, não lhe reconhecemos mais disciplina, nem concentração, ela continua igual a si própria e sinceramente eu gosto disto; o ballet não a transformou noutra pessoa, no entanto, e graças a ele, ela está ainda mais alegre, ainda mais dinâmica e tem cada vez mais curiosidade sobre a dança em geral, quer seja clássica ou contemporânea (adora ver o canal VH1).
Nos últimos tempos a preparação para o espetáculo de fim de ano tomou cada vez mais importância no nosso ritmo diário. Tivemos de a levar mais vezes à escola, mais horas, levar, trazer, veste, despe, não esquece o lanche, faz o risco ao meio, alinha a saia, lava, seca, guarda, tira,... Tudo isto a coincidir com a praia da escola tomou proporções de cansaço que todos nos ressentimos cá em casa, muitas birras, muita falta de paciência e os nervos a começar a aparecer com a chegada da data. Os nervos não eram dela, eram meus... Estaríamos nós a esperar demasiado dela? E se ela não quisesse subir ao palco? E se se assustasse? Os bastidores eram interditos aos pais, cada menina pequena ficou à responsabilidade de uma menina (um pouco) maior, pormenor que eu gostei imenso porque sou totalmente a favor de responsabilizar as crianças desde pequenas.
Nós quase não tivemos informações sobre o espetáculo, sabíamos que seria a peça de Shakespeare "
Sonho de uma Noite de Verão" musicada por Mendelssohn, que ela tinha de levar o cabelo apanhado atrás e levar um risco azul nos olhos.
No dia do espetáculo, eu estava muito ansiosa, não sei porquê achei que ela pudesse não aparecer, que ficasse contrariada, que tivesse sono e se portasse mal. Quando o ballet começou fiquei maravilhada e passou-me a preocupação. Raparigas dos 3 aos 25 anos, companheiras, todas a trabalhar para um fim comum; muito bem preparadas, concentradas, a dançar sem transparecer qualquer dor ou cansaço. As mais pequeninas foram as estrelas mais engraçadas, ninguém lhes resistiu, foram sem dúvida o momento mais descontraído da noite, fizeram o melhor que conseguiram e valeram todas as palmas! A nossa menina, era a alegria em palco, sempre a tentar conter a excitação, dizia adeus à plateia, procurava-nos, dava saltinhos e depois punha as mãos no peito para se controlar e voltar à posição.
Após os breves minutos da atuação dela, fiquei a apreciar o resto do espetáculo e naturalmente a imaginá-la já crescida, se continuaria a praticar dança... Creio que independentemente daquilo que os filhos praticam, seja desporto, dança, pintura, xadrez..., acho que não há pai ou mãe que não sinta um orgulho desmesurado daquilo que os filhos conseguem alcançar. Por menor que seja a conquista acho esta sensação fantástica, a de poder proporcionar a um filho um momento em que ele/ela sejam o alvo da nossa maior atenção, algo que eles se esforçaram para nós vermos e que no fim fica aquela sensação boa de que tudo valeu a pena e que eles estão mesmo felizes.
Eu fiquei muito orgulhosa da minha filha, mesmo sabendo que ela não tem noção do quão importante isto foi. Para ela isto ainda foi uma espécie de brincadeira, com alguns momentos de concentração, é certo, mas nesta fase, tudo é ainda uma grande introdução. Para o próximo ano letivo, ela vai continuar, já sei que terá duas aulas por semana, já sei que lhe terei de comprar um fato e umas sapatilhas maiores porque tudo lhe fica apertado e daqui por um ano, faremos todos os possíveis para estar com ela no espetáculo e vê-la vibrar.