De um modo geral, sem me prender a pormenores irritantes, acho o nosso Sistema Nacional de Saúde bastante razoável. O nosso centro de saúde e respectiva unidade de saúde familiar funcionam muito bem, mas tenho algo a dizer, algo que me parece uma grande falha e que deveria ser colmatada o mais breve possível: a inexistência de pediatria no Centro de Saúde (CS).
A nossa menina está doente, apanhou uma virosada e andou cheia de febre e toda mole. Telefonei ao nosso pediatra, a meio da noite, que me pediu que só saísse de casa com ela se ela não arrebitasse sob o efeito dos anti-piréticos, eu acatei e estava calma porque para além da febre não havia mais nada de preocupante a registar.
De acordo com a lei do trabalho, para recebermos o nosso ordenado, é obrigatório apresentarmos um atestado que diz que o nosso bebé está doente e que temos que cuidar dele. Ontem faltei, hoje também e lá recebi o telefonema da secretária a avisar-me das consequências de não ter a baixa e lalalalala. E pronto, toca de telefonar ao Centro e marcar uma consulta para hoje, e resolvi sair com ela de casa, contrariando o pedido do pediatra. Como eu previa o CS estava praticamente vazio às 18:00 e ela já estava mais arrebitada depois de ter lanchado uma boa papa. Fomos atendidas por duas médicas muito atenciosas e que me passaram o atestado sem que me justificasse em demasia, elas sabem...
Fico contente quando as coisas funcionam, não paguei um tostão pela consulta e só tenho pena de ter que pagar um pediatra privado (que nós gostamos muito!) porque o Estado não acha necessário ter essa especialidade nos Centros de Saúde. Eu não percebo, se quando é por causa das doenças das crianças que a maioria dos adultos trabalhadores faltam aos empregos.
Mas pronto, certamente que o Ministério da Saúde deve ter uma boa justificação para estas medidas, devem ser as mesmas que acham que uma grávida não precisa de um obstetra para a seguir durante a gravidez.
Ou seja, qualquer pessoa que não esteja doente, ou gravemente doente, vai sendo vigiada por um clínico geral, ou um especialista disfarçado de clínico geral (a nossa médica de família é ginecologista, e leva a filha ao pediatra...), se a pessoa se meter em sarilhos, esse médico escreve uma carta ao colega especialista do hospital e pronto, fica tudo bem!
Espetacular!!
Mesmo assim, fica aqui o meu pedido ao Pai Natal:
"Eu e todas as crianças de Portugal, queremos pediatras nos Centros de Saúde, tá!"
7 comentários:
Muito importante este post... apesar de eu estar a ser seguida pelo SNS na gravidez e estar satisfeita... pelo que sei, se o médico de família detectar algo estranho, deve enviar logo a grávida para o obstetra do hospital e deixa de segui-la, logo julgo que se houver profissionalismo, nesta situação há resolução.
Estou de acordo!
No CS é necessário pediatras mas tb um obstetra.
Na minha unidade de saúde familiar, são os próprios médicos de clínica geral que fazem todos os serviços: ginecologia, pediatria, obstetrícia.
*
Na verdade para o controle de uma gravidez normal de uma mulher saudável, um médico de família é perfeitamente suficiente. Idem para o controle rotineiro de uma criança saudável. A questão é haver capacidade de resposta dos serviços de urgência nos casos em que há problemas, ou seja, o médico de família detecta que o paciente precisa de cuidados mais especializados. Na verdade há vários países na Europa em que as grávidas e as crianças só vão as especialistas se o seu estado assim o justificar. Ter um obstreta ou um pediatra nos centros de saúde a medir tensões, controlar peso, auscultar e rotinas que tais seria totalmente impráticavel financeiramente... ou então acabava-se com o SNS público (e gratuito) e passava-se ao um sistema de saúde privatizado.
Totalmente de acordo com a Mafalda, em tudo. O CS não precisa de especialidades, se a situação concreta precisar de atenção da especialidade deve ser encaminhada para o Hospital e aí sim, receber a assistência necessária... O ideal seria que essa transferência corresse bem, fosse célere e que o CS funcionasse em total sintonia com o Hospital, essa parte é que não sei se funciona sempre bem...
eu tb concordo contigo, mafalda. claro que o estado, e faz muito bem, deve apostar nas maiorias nos centros de saúde, e a maioria faz consultas normais de rotina. mas já viste, se alguém tivesse um problema mais subtil com uma criança e um médico clínico geral (que até pode nem gostar de crianças, há adultos que não gostam, pronto :D) não estivesse "para aí virado" podia ser problemático.
julgo que se as crianças até aos 24 meses tivessem direito a um pediatra era de pensar duas vezes, visto que nesses dois anos as consultas são muitíssimas, logo, financeiramente poderia ser equacionável.
é uma discussão muito interessante, eu acho.
As vezes ate acontecem situacoes em que e o medico de familia a reparar em problemas que o pediatra nao se apercebeu por isso nao sei se o pediatra sera assim tao imprescindivel nos centros de saude Se cada um trabalhasse como devia isso sim seria o ideal.
Concordo plenamente. O nosso C.Saúde tinha pediatra e deixou de ter.
Também me custa ter de pagar e bem no privado quando podia poupar aí imenso dinheiro (tendo em conta que tenho três filhos).
espero que a tua menina esteja já fina!
Beijos
Enviar um comentário