23 de maio de 2012

o rigor da educação

Já terminei o livro que andava a ler e apetece-me dissertar um bocadinho, para memória futura.

O livro, para quem não sabe, é um retrato sobre como Amy, uma chinesa nascida nos EUA, criada pelos pais de forma rigorosíssima e que tomou a decisão de aplicar os mesmos métodos às duas filhas, nascidas durante a década de 1990. A disciplina rigorosa consistia em muitas restrições, ou mesmo uma total falta de liberdade das crianças se exprimirem de forma livre e criativa, para além das aulas escolares não podiam frequentar grupos de teatro, desportos coletivos, dormir em casa de amigas e todas aquelas coisas que para nós, ocidentais, são normais e expectáveis.
Foi uma extremista, ela própria o reconhece, mas a firmeza com que defende a sua postura é admirável, é preciso ter uma coluna vertical muito bem posicionada!! Enquanto uma das filhas sempre acatou os métodos da mãe, a outra sempre optou pela contradição, embora fossem ambas reconhecidas pelas suas características brilhantes tanto enquanto alunas como no trato social.

Ao longo do livro pude encontrar alguns paralelismos com a minha própria educação, ainda que o rigor não fosse nem de perto nem de longe comparável, tanto eu como os meus irmãos nunca considerámos o facto de não ingressar no ensino superior. Um dos episódios que mais me marcou na minha vida escolar, foi, no 6º ano, tomar consciência de que havia colegas na minha turma que pediram para passar de ano porque simplesmente não iriam prosseguir os estudos, íam trabalhar para as fábricas da localidade onde viviam. Isso para mim foi uma novidade e recordo de ficar especada a olhar para alguns deles e interrogar-me "Mas quê, os estudos acabaram para ti? Não vens para o secundário???", hoje em dia olho para estas minhas observações e acredito que os meus colegas de então deviam ficar a pensar "olha-me esta a pensar que todos são finos...".
Mas eu não era fina, nunca fui uma aluna brilhante, mas mudei diversas vezes de escola, inclusive de idioma nacional e sempre me mantive ao nível de qualquer outro colega mediano/bom e isso, reconheço hoje tem um certo mérito. Recordo-me também de passar "agradáveis" tardes de fim-de-semana a fazer ditados de inglês e treino de caligrafia em papel quadriculado e linhas duplas para que na 1ª classe não ficasse na sombra dos meus colegas. Ao contrário da mãe tigre, eu tinha um pai tigre, em modo bem mais moderado claro, mas que me obrigou a ler a História Concisa de Portugal do José Hermano Saraiva quando eu tinha 10 anos porque estando no estrangeiro eu tinha poucos conhecimentos de Portugal e da sua complexa História. Eu fiz ditados, eu enchi folhas de papel quadriculado com números até ficarem alinhados, as boas notas não eram premiadas com brinquedos ou elogios, em suma eu não fazia mais do que a minha obrigação. Isto tudo multiplicado em 3 porque éramos 3 estudantes lá em casa.

Nem eu nem os meus irmãos ficámos traumatizados, temos imenso respeito pelos nossos pais e temos a plena consciência que lhes devemos tudo e é aí que eu encontro pontos em comum com a autora do livro e é aí que eu quero levar a educação dos meus filhos. Devemos ser exigentes, rigorosos, mas! há sempre um "mas", eu acho que o aluno deve ser agraciado quando tem mérito. É certo que um estudante que só estuda, (não tem de trabalhar para sustentar os livros) não faz mais do que a sua obrigação do que ser excelente, na prática, a sua concentração é exclusivamente dedicada à aprendizagem e aperfeiçoamento da técnica, no entanto é também um dever do educador reconhecer o esforço, incentivando o filho a ultrapassar novas metas acreditando sempre nas capacidades intelectuais da criança/jovem. Vou fazer sempre o possível para acompanhar de muito perto a vida escolar das minhas crianças, para isso é preciso tempo e paciência, não é algo que se faça em cinco minutos nem com desdém relativo ao fracasso. A criança deve esforçar-se mas deve ter consciência que os seus educadores fazem o esforço com ela.

Um livro que nos faz refletir.


sinopse
"O Grito de Guerra da Mãe Tigre é a confissão de Amy Chua, filha de pais chineses, é uma brilhante professora de direito na Universidade de Yale,. A autora decidiu educar as filhas tal como tinha sido educada: com um grau de exigência absolutamente maníaco. Obrigou a mais velha a estudar piano, a mais nova a estudar violino. Quatro horas por dia e o dobro aos fins de semana. Proibiu a TV, os jogos de computador, as dormidas fora de casa, as peças da escola. E impôs que tivessem nota máxima em todas as disciplinas. Sophie cumpriu. O Grito de Guerra da Mãe Tigre é a história de um sucesso e a história de um fracasso. Narrado com uma honestidade arrepiante, com uma crueldade que choca, é pontuado por um humor que surpreende a cada página. Best-seller em todos os países onde foi traduzido, o livro obriga o leitor a repensar o papel que os pais desempenham na vida dos filhos."
O Grito de Guerra da Mãe Tigre - Amy Chua
Lua de Papel, 2011

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